16 de julho de 2021

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Veja como o custo extra da conta de luz impacta a meta de inflação

Veja como o custo extra da conta de luz impacta a meta de inflação

A conta de energia está mais cara e o consumidor já percebeu a mudança na última fatura. Esse aumento está diretamente ligado à crise hídrica e a difícil situação que as hidrelétricas estão passando, porém, vale ressaltar que o impacto não fica somente na energia.  

 

O aumento da bandeira tarifária vermelha 

 

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou, em reunião extraordinária, o reajuste de 52% na bandeira vermelha patamar 2 que encarece a conta de luz de julho.

Aneel

Já em maio deste ano foi determinada a bandeira tarifária vermelha patamar 1, que acrescentou R$ 4,17 na conta de luz a cada 100 kWh. Em junho, a bandeira vermelha passou para o patamar 2 representando uma cobrança adicional de R$ 6,24 para cada 100 kWh consumidos. Agora, em julho, a taxa adicional cobrada nas contas de luz passa a ser de R$ 9,49 kWh, o que resultará em um aumento médio de 4,9% na conta de luz dos consumidores residenciais.

 

Ainda, a Aneel abriu no dia 01 de julho uma consulta pública para a possibilidade de um novo ajuste na tarifa de energia, podendo chegar a R$ 11,50 para cada 100 kWh consumidos ou a manutenção dos R$ 9,49. Esse aumento na bandeira, se justificaria para cobrir o custo para gerar energia através do acionamento extra de usinas termelétricas. Atualmente, essa conta já apresenta déficit de R$ 1,5 bilhão, podendo chegar a R$ 2 bilhões, caso a bandeira permaneça em R$ 9,49 a cada 100 kWh consumidos, segundo a entidade.


Ou seja, se o aumento da energia já estava sendo sentido pelos consumidores, agora ele fica ainda mais evidente e se faz necessário medidas mais contundentes de economia e racionamento.

 

O Risco Hídrico e a Inflação

 

O encarecimento da conta de energia vem balizado por uma crise climática na Região Centro-Sul, fazendo com que o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitisse um alerta de emergência hídrica entre junho e setembro para cinco Estados – Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná – Bacia do Paraná.

 

Crise hídrica

 

O grande problema é que se estima que cerca de 70% dos reservatórios do país ficam na Região Sudeste, onde a situação encontra-se mais crítica. Estima-se que o nível dos reservatórios das hidrelétricas, até o fim de 2021, deve atingir o menor patamar dos últimos 90 anos.

 

Tal conjuntura, como já explicitado acima, abre margem para utilização das usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis, cuja produção é muito mais poluente e cara do que as fontes alternativas. Esse custo extra é repassado aos consumidores finais por meio da mudança da bandeira tarifária, no qual os técnicos acreditam que tais cobranças adicionais devem continuar até o final do ano.

 

Possível racionamento? 

 

Além disso, caso a questão da seca se agrave nos próximos meses, não é descartada uma política mais radical, visto o eminente risco de apagão, como o racionamento de energia. Esta política, no entanto, se encontra no fim do rol de possibilidades levantadas pelos especialistas, dado que a medida tem elevado ônus político, como já vivenciado há 20 anos, além de possivelmente propiciar uma tensão ainda maior nos preços devido à escassez na oferta de energia.

 

Ainda em relação à possibilidade de racionamento, a equipe econômica calcula que o risco de racionamento de energia e o desabastecimento de insumos para a indústria, ameaça derrubar em um ponto percentual o ritmo de crescimento do PIB em 2021.

 

Para além da questão da falta de chuvas, não podem deixar de ser citadas as falhas no planejamento na expansão energética adicionado a um deficiente plano de gerenciamento de riscos hidrológicos do país. Obviamente, a junção desses fatores mostra-se extremamente difícil tanto para o setor de energia, como para a recuperação econômica pós-pandemia.

 

O impacto nos Índices de Preços

 

O acionamento e os reajustes da bandeira tarifária vermelha 2 pioraram as expectativas dos agentes quanto ao nível inflacionário da economia. A energia elétrica é um dos principais itens que compõem a cesta de mercadorias do IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), índice que mede a inflação oficial no país. Dado esse custo adicional das bandeiras, espera-se um repique considerável do IPCA nos próximos meses. No mês de julho a inflação mensal deve ficar acima de 0,6%, o que implicaria em uma inflação de 6,5% a.a.

 

O maior custo da conta de luz ocasiona uma forte pressão nos preços em todos os setores da economia, já que mesmo após a retirada da bandeira, a expectativa inflacionária persistirá nos preços dos produtos e serviços, o que torna o cenário ainda mais conturbado e desafiador.

 

O aumento dos demais impostos

 

Um ponto de atenção é que o aumento persistente do IPCA ao longo do ano o deixa superando o teto da meta estabelecido pelo Banco Central que é de 5,25% a.a. Caso ultrapasse, sem dúvidas, haverá uma política de crescimento de juros, que impactará negativamente os investimentos e as expectativas dos agentes quanto à possibilidade de uma recuperação macroeconômica sustentável da economia brasileira. Já adiantando esse movimento, a taxa Selic se encontra em 4,25% a.a. podendo terminar 2021 em 6,5% a.a., de acordo com o Boletim Focus do Banco Central.

 

Outra questão importante é o aumento contínuo do IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), que em junho teve uma variação mensal de 0,60% e em 12 meses chega a 35,75%. Tal índice é composto por três outros índices: o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), com peso de 30%, mede o custo de vida das famílias; o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), com participação de 60%, mede os preços de produtos do agronegócio, commodities e indústria em geral; e o INCC (Índice Nacional do Custo da Construção), com 10%, mostra a variação do custo no setor de habitação.

 

Deste modo, IGP-M incorpora com maior peso o IPA que também é conhecido como a “inflação do atacado”, e é fortemente impactado pela variação cambial, pois tem as commodities como principais produtos da sua cesta. Dessa forma, a baixa pluviometria já impacta a oferta e, posteriormente, o preço das commodities agrícolas, gerando assim uma maior pressão inflacionária no indicador. Em junho a variação do IPA registrou um aumento de 0,42%, no mês de maio o acréscimo foi de 5,23% e em 12 meses o crescimento chega a 47,53%.

 

Você pode consultar mais informações aqui.

 


A Economia 

 

Além dos pontos discutidos, ainda há outro tão importante quanto que é o reaquecimento da economia.

 

A forte contenção da demanda ocasionada pela pandemia irá arrefecer nos próximos meses devido ao avanço do plano de vacinação da população. Portanto, é esperado que a economia maneje uma recuperação mais forte no segundo semestre, apesar de já ter mostrado sinais de recuperação com um PIB de 1,2% no primeiro trimestre de 2021, segundo o IBGE. Dada essa expectativa, o uso do insumo energia tende a ser cada vez mais demandado, propiciando mais um fator de risco para a falta de energia.

 

É necessário um acompanhamento meticuloso do cenário hídrico do país, dado os seus diversos rebatimentos da economia, que foram mencionados neste texto, e, especialmente, dos impactos nos índices de preços IPCA e IGP-M, que são usados em larga escala como balizadores de atualização de contratos e de reajustes da tarifa de energia, que como visto, têm tido tendências inflacionárias preocupantes nos curto e médio prazos.

 

Para condução de renegociações de contratos e do gerenciamento das contas de energia, com imparcialidade, uma GestãoIndependente nos processos inerentes ao insumo energético é fundamental.

 

Veja também nosso artigo Os Índices de Preços e o Reajuste da Energia Elétrica e Renegociação de Contratos na Covid-19.